O Tribunal do Júri do Rio de Janeiro condenou, nesta quinta-feira (31/10), os assassinos confessos da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes. Após quatro dias de julgamento, Ronnie Lessa e Élcio Queiroz receberam sentenças de 78 anos e 9 meses e 59 anos e 8 meses, respectivamente, ambas em regime fechado.
Além das penas de prisão, os dois foram condenados a pagar indenizações de R$ 706 mil às famílias das vítimas e uma pensão ao filho de Anderson até ele completar 24 anos. O processo foi conduzido pela juíza Lucia Glioche, do 4º Tribunal do Júri, que manteve a prisão preventiva dos réus e negou-lhes o direito de recorrer em liberdade.
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Debates e Argumentos Decisivos
A última etapa do julgamento trouxe intensos debates entre defesa e acusação. O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) foi enfático em pedir a condenação máxima para Lessa e Élcio, alegando que a dupla mostrou características sociopáticas, segundo o promotor Fábio Vieira. “Confessaram, porque vão ganhar um benefício. Isso é uma característica do sociopata, eles não têm emoção em relação ao outro”, declarou Vieira, ressaltando o fato de ambos serem profissionais treinados para o uso de armamentos dentro de órgãos públicos de segurança. “Eles usaram o conhecimento adquirido no treinamento público para assassinar Marielle e Anderson e atentar contra a vida de Fernanda, que estava com eles”, completou o promotor.
A defesa dos réus, por sua vez, concentrou-se em mitigar a responsabilidade dos acusados. Saulo Carvalho, advogado de Lessa, questionou as alegações de que o motivo do crime seria político, negando haver provas de que seu cliente tivesse intenções contra Marielle Franco por razões ideológicas. Ana Paula Gonçalves, advogada de Élcio, argumentou que seu cliente teria sido apenas o motorista, sem conhecimento de que o assassinato incluía Anderson Gomes. “Élcio, ao dirigir o veículo, acreditava que Ronnie mataria somente Marielle”, afirmou a advogada.
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Um Recado à Criminalidade e às Milícias
Ao encerrar a leitura da sentença, a juíza Lucia Glioche enviou uma mensagem forte contra a criminalidade no Rio de Janeiro. “A sentença não responde à pergunta de quem mandou matar Marielle, mas se dirige aos vários Ronnies e Élcios da cidade”, disse, numa referência aos crimes praticados por agentes que usam conhecimento policial para interesses pessoais. A fala foi vista como um recado às milícias e àqueles que transformam o treinamento público em instrumentos de violência e repressão.
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O Caso dos Mandantes
Os mandantes do crime, segundo as investigações, incluem os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão. Ambos teriam ordenado a morte de Marielle Franco com o objetivo de impedir que a vereadora interferisse em interesses de milicianos e em ações como a regularização de loteamentos ilegais na zona oeste do Rio. Eles também visavam garantir indicações políticas para o Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), segundo consta na denúncia.
Além dos irmãos Brazão, outros envolvidos também foram denunciados, incluindo dois policiais e o ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Rivaldo Barbosa. O processo dos supostos mandantes corre em separado no Supremo Tribunal Federal (STF) e aguarda novas diligências. Até agora, todos negam envolvimento, mas o Ministério Público e a Procuradoria-Geral da República (PGR) reforçam que o crime foi minuciosamente planejado para interromper as atividades de Marielle Franco, que atuava de forma incisiva contra a influência de milícias na capital fluminense.