- Foto: Reprodução/Alessandra Korap
Mais de 100 lideranças indígenas de diversas etnias do Pará ocupam a Secretaria de Educação (Seduc) desde a manhã desta terça-feira (14). O ato busca pressionar o governo estadual pela manutenção do Sistema Modular de Ensino (Some), considerado a única alternativa de acesso ao ensino médio para comunidades rurais, ribeirinhas e indígenas em áreas remotas. Criado há 44 anos, o Some oferece aulas presenciais com professores em mais de 90 localidades do estado, onde internet e energia elétrica são escassas ou inexistentes.
As lideranças denunciam que o governo, por meio do secretário de Educação Rossieli Soares, pretende substituir o modelo atual de um sistema de Ensino à Distância (EAD), com a instalação de centrais de mídia para transmissão de aulas. Essa mudança, segundo os manifestantes, comprometerá gravemente a educação no campo e nas florestas.
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Retaliação e repressão
Durante a ocupação, o clima ficou tenso. Segundo relatos, a energia do prédio foi cortada por volta das 9h30, e a polícia militar intensificou a presença no local, impedindo a entrada de apoiadores e jornalistas. Há denúncias de uso de spray de pimenta em banheiros e ameaças de corte não adequadas de água, o que foi interpretado como retaliação. Alessandra Korap, liderança da etnia Munduruku, criticou o que chamou de “abandonos sucessivos à educação indígena” e destacou que as ações do governo ignoram os direitos das populações tradicionais.
“Mexer com a educação indígena é mexer com os formigeiros. As escolas e os alunos estão sendo abandonados, enquanto o governador se apresenta como defensor da Amazônia em eventos internacionais”, afirmou Korap.
Mobilização crescente e apoio político
O movimento exige diálogo direto com o governador Helder Barbalho ou com a governadora em exercício, Hana Ghassan. Apesar das estratégias de negociação prévia, as lideranças alegaram que foram ignoradas, o que levou à ocupação. A deputada estadual Lívia Duarte (PSOL), que acompanha o caso, alerta para os riscos de repressão e defende o atendimento das demandas do movimento. “Esperamos um desfecho pacífico, mas não vemos outra saída senão o recuo do estado e a garantia de direitos”, afirmou.
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Enquanto isso, o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação Pública do Pará (Sintepp) reafirma que a suspensão de matrículas no 1º ano do ensino médio não representa o desmonte gradual do programa.