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Notícias do Brasil – A frágil aliança entre as duas maiores facções criminosas do Brasil, Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV), chegou oficialmente ao fim. O pacto de não agressão, anunciado em fevereiro com o objetivo de reduzir conflitos e preservar os lucros do crime organizado, foi rompido após o ressurgimento de disputas regionais, que reacenderam a rivalidade histórica entre os grupos. A confirmação veio por meio de comunicados internos das facções, os chamados “salves”, e foi endossada pelo Ministério Público de São Paulo.
De acordo com o promotor Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), a trégua foi rompida por “questões que ferem a ética do crime”, conforme alegado pelo PCC em um dos comunicados. O fim da aliança preocupa autoridades de segurança pública, que já preveem uma escalada na violência nos estados onde as organizações criminosas mantêm influência direta sobre o tráfico de drogas, armas e outras atividades ilícitas.
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Aliança com prazo de validade
O acordo informal entre PCC e CV foi interpretado por especialistas e autoridades como uma tentativa pragmática de reduzir os custos da guerra e minimizar a exposição aos órgãos de segurança. Relatórios de inteligência da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, elaborados com dados coletados junto às Polícias Militares de 26 estados e do Distrito Federal, indicavam que ao menos nove estados haviam identificado sinais concretos de uma trégua entre as facções. São eles: Minas Gerais, Amazonas, Acre, Roraima, Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, Alagoas e Sergipe.
Esses sinais incluíam diminuição de confrontos armados entre membros dos grupos, além de movimentações coordenadas em presídios e comunidades dominadas. Contudo, o clima de instabilidade regional, especialmente fora dos grandes centros urbanos, minou a viabilidade do pacto. Fontes ligadas à investigação indicam que disputas por pontos estratégicos no tráfico, sobretudo em estados da Região Norte e Nordeste, precipitaram a quebra do acordo.
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Salves indicam nova fase de confronto
Diferente do anúncio da trégua, feito em documento assinado conjuntamente pelas lideranças encarceradas das duas facções, os comunicados que agora circulam entre os criminosos são separados. Nos “salves”, o PCC declara o fim da aliança e afirma que o armistício foi interrompido por ações que teriam violado códigos internos do crime.
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Já o CV adota tom mais incisivo, alertando seus integrantes sobre o risco de ataques a inocentes. O comunicado da facção menciona especificamente casos de assassinatos e tortura de jovens que fizeram sinais com as mãos associados às organizações. O gesto de três dedos, que remete ao PCC, e o símbolo de dois dedos, ligado ao CV, tornaram-se motivo de perseguição em vários estados.
Esses episódios, segundo autoridades, demonstram o alto grau de radicalização e descontrole entre as bases das facções, o que dificulta qualquer tentativa de mediação, mesmo entre os líderes presos que tentaram articular a trégua.
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Ministério Público mantém alerta máximo
O promotor Lincoln Gakiya, um dos principais especialistas no combate ao crime organizado e jurado de morte pelo PCC, afirma que o rompimento reforça a necessidade de intensificação das operações de inteligência e repressão qualificada.
Gakiya, que atua há quase 20 anos no enfrentamento à facção, aponta que a ruptura pode levar a uma nova onda de homicídios, especialmente nos presídios, onde alianças temporárias frequentemente colapsam em massacres e rebeliões. “A trégua nunca foi sólida. Ela era estratégica, mas instável. O crime não respeita suas próprias regras quando interesses locais falam mais alto”, disse.
O Ministério Público de São Paulo já comunicou às forças policiais estaduais e federais o risco de escalada de violência e orientou reforço na vigilância de áreas conflagradas, além de maior monitoramento das comunicações nas penitenciárias.
*Com informações de O Globo