
Foto: divulgação
Cinema – “A Substância”, o mais recente filme de Coralie Fargeat, que chamou atenção no Festival de Cannes 2024, é uma obra que não apenas desafia as normas do gênero, mas também se embrenha em um discurso incisivo sobre a vaidade e a percepção feminina na sociedade moderna. Com quase 2h30 de duração, o filme se destaca por sua narrativa audaciosa e pela capacidade de manter o espectador intrigado, enquanto explora conceitos complexos de identidade através de uma trama que mistura ficção científica e horror corporal.
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A Protagonista e Sua Busca por Aceitação
A história gira em torno de Elisabeth Sparkle, uma ex-estrela de cinema vivida por Demi Moore, que, em um mundo onde a juventude é venerada e a aparência, muitas vezes, define o valor das mulheres, recorre a uma substância misteriosa que promete transformar seu corpo e, metaforicamente, sua vida. Essa substância não é apenas uma solução superficial; ela representa a busca desesperada por aceitação e relevância em um cenário que frequentemente descarta mulheres à medida que envelhecem.
A Maestria de Coralie Fargeat
Fargeat demonstra uma habilidade excepcional ao equilibrar a narrativa e a estética, criando uma experiência que é tanto excitante quanto inquietante. O filme incorpora elementos de horror corporal de maneira visceral, utilizando uma direção de arte imaginativa e um design de som perturbador que faz o espectador sentir cada transformação, cada distorção do corpo, em um nível quase físico. A cineasta, além de diretora, é também responsável pela montagem, o que lhe permite moldar o ritmo da história de forma eficaz e impactante.
A Dinâmica Mãe-Filha
A dinâmica entre Moore e Margaret Qualley, que interpreta uma jovem versão de Elisabeth, é particularmente poderosa. A relação mãe-filha é carregada de tensão, ressentimento e uma luta constante por identidade e valorização. Ambas as atrizes trazem uma profundidade emocional que ressoa, revelando as inseguranças e as pressões que cada uma enfrenta em sua busca por reconhecimento e amor. Através dessa interação, o filme reflete sobre o que significa ser mulher em um mundo que muitas vezes as obriga a se contorcer e a se humilhar para se sentirem amadas e valorizadas.
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Uma Crítica ao “Male Gaze”
“A Substância” não se limita a simplesmente apresentar uma narrativa de horror; ela desafia a audiência a refletir sobre a misoginia impregnada na representação do corpo feminino no cinema. A cinematografia de Fargeat utiliza uma linguagem visual que flerta com o “male gaze”, subvertendo-o para criticar e questionar o voyeurismo que frequentemente define o olhar masculino sobre o corpo das mulheres. Assim, o filme se torna um campo de batalha entre a admiração pela beleza e a aversão à exploração dessa mesma beleza.
Em conclusão, “A Substância” é um testemunho do poder do cinema como meio de questionamento social. Com sua narrativa intensa e suas atuações notáveis, o filme de Coralie Fargeat nos obriga a encarar as realidades perturbadoras da vaidade e da identidade feminina. Ele desafia o espectador a não apenas se entreter, mas também a refletir sobre as normas que regem a percepção do corpo e da beleza, fazendo dele uma experiência cinematográfica verdadeiramente vital e essencial.