
Crítica do filme A Sociedade da Neve- Foto: Netflix
Cinema– “A Sociedade da Neve,” dirigido pelo aclamado Juan Antonio Bayona, é uma obra que desafia as convenções do cinema de sobrevivência com sua abordagem introspectiva e antropológica. Baseado no trágico acidente aéreo de 1972 nos Andes, o filme é mais do que um relato de desespero e luta pela vida; é uma exploração profunda do espírito humano em condições extremas.
A Humanidade Testada ao Extremo
Bayona, conhecido por sua habilidade em tecer narrativas emocionantes com profunda sensibilidade humana, não decepciona. “A Sociedade da Neve” se destaca não apenas pelo relato de sobrevivência física, mas pela jornada emocional e psicológica dos personagens. O diretor habilmente nos conduz por um labirinto de dilemas morais e escolhas impossíveis, refletindo sobre o que significa ser humano quando retirado do conforto da civilização.
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Além da Sobrevivência: Uma Reflexão Profunda
Ao focar na regressão a uma “condição de horda primeva”, Bayona não simplifica a experiência dos sobreviventes a meros atos de sobrevivência. Ele explora a complexidade das relações humanas e a solidariedade que emerge em momentos de crise, oferecendo uma visão otimista da humanidade apesar das circunstâncias desoladoras. Esta abordagem contrasta marcadamente com produções anteriores sobre o mesmo evento, evitando a exploração sensacionalista do canibalismo e escolhendo, em vez disso, um caminho mais sensível e reflexivo.
Questões de Fé e a Busca por Sentido
Particularmente tocantes são as cenas que abordam a fé e o questionamento do divino. “A Sociedade da Neve” não tem medo de enfrentar as grandes questões existenciais, mergulhando no desespero e na esperança, muitas vezes entrelaçados na luta pela sobrevivência. A maneira como os personagens lidam com a perda da fé e, posteriormente, encontram um novo tipo de espiritualidade, baseada na comunhão e no apoio mútuo, é habilmente retratada e estimula a reflexão.
Uma Ode à Solidariedade Humana
No cerne de “A Sociedade da Neve” está a ideia de que, mesmo nas condições mais adversas, a solidariedade humana prevalece. O filme é uma homenagem aos sobreviventes e àqueles que perderam a vida, mas também um lembrete da resiliência e do potencial inato para a bondade dentro de cada pessoa. A escolha de Bayona de narrar a história através dos olhos de uma personagem que não sobrevive acrescenta uma camada adicional de profundidade e emoção à narrativa, transformando a obra em um monumento à memória e à esperança.
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Fotografia: Um Personagem em Si
Pedro Luque, diretor de fotografia, merece elogios especiais pela captura da beleza desolada dos Andes. Suas lentes não apenas registram o cenário, mas também amplificam o isolamento e a magnitude do desafio enfrentado pelos personagens. A fotografia de “A Sociedade da Neve” é, sem dúvida, um personagem em si, enriquecendo a narrativa e imergindo o espectador na experiência vivida pelos sobreviventes.
Uma Obra-prima Emocional
Em conclusão, “A Sociedade da Neve” é muito mais do que um filme sobre um desastre aéreo; é um estudo meticuloso sobre a condição humana. Bayona entrega uma obra-prima emocional que desafia o espectador a refletir sobre a vida, a morte, a fé e o poder da solidariedade humana. Com performances poderosas, direção magistral e uma fotografia deslumbrante, este filme é um forte candidato a prêmios internacionais e merece um lugar de destaque na história do cinema.