Economia – O governo dos Estados Unidos anunciou, nesta terça-feira (2), a imposição de tarifas sobre todos os seus parceiros comerciais. A medida, segundo especialistas, tem como objetivo fortalecer a indústria americana e reduzir déficits comerciais anuais que ultrapassam US$ 1 trilhão. No entanto, analistas alertam que essa estratégia pode não ser suficiente para recuperar a competitividade da economia norte-americana frente ao crescimento da indústria asiática.
De acordo com o economista Paulo Gala, do Banco Master, países como China, Índia, Vietnã e Indonésia desenvolveram políticas eficientes para impulsionar sua indústria, investindo em inovação e subsidiando setores estratégicos. Ele destaca que a nova taxação representa um impacto significativo na economia global, sendo considerada a maior barreira tarifária desde os anos 1930.
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As tarifas aplicadas variam conforme a região: 10% para países da América Latina, 20% para a Europa e 30% para a Ásia, evidenciando uma tentativa de conter o avanço asiático no mercado mundial. Um dos setores mais afetados deve ser o de tecnologia, com produtos como computadores, chips e maquinário industrial se tornando mais caros nos EUA.
O Brasil foi um dos países menos afetados pela medida, com uma tarifa de 10% sobre suas exportações. Ainda assim, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) alerta que as restrições podem impactar setores estratégicos, como a aviação, com a Embraer entre as empresas mais vulneráveis. O governo brasileiro estuda recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) para tentar reverter a decisão.
Apesar dos desafios, especialistas apontam que a crise pode abrir oportunidades para o Brasil, uma vez que importadores busquem novos fornecedores diante das tarifas impostas aos produtos americanos.
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Choque brutal
As medidas geram incerteza no mercado mundial, derrubam bolsas em todo o mundo e devem paralisar as decisões empresariais. Uma multinacional que produz no Vietnã, na China, em Taiwan, ou na Europa, vai pensar duas vezes agora no que fazer, avalia Paulo Gala.
“É o maior choque tarifário desde os anos 1930, é um choque tarifário brutal e o mercado está reagindo com muita preocupação. Vai ter uma desestruturação dramática do comércio, investimentos e tecido produtivo”, acrescentou.
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Para ele, as tarifas devem pressionar a inflação interna dos Estados Unidos. “Todos os produtos asiáticos ficam 30% mais caros. Equipamentos, máquinas, tratores, computadores, chips, tudo isso”, alertou.
Tarifas recíprocas
Um dos principais argumentos da Casa Branca para o tarifaço desta semana é que os parceiros comerciais têm adotado tarifas aos produtos estadunidenses superiores aos que os EUA aplicam nas suas importações e cita o caso do Brasil.
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“Grandes e persistentes déficits comerciais anuais de bens dos EUA são causados em parte substancial pela falta de reciprocidade em nossas relações comerciais bilaterais, que dificultam a venda de produtos por fabricantes dos EUA em mercados estrangeiros. O Brasil (18%) e a Indonésia (30%) impõem uma tarifa mais alta sobre o etanol do que os Estados Unidos (2,5%)”, afirmou Trump na Ordem Executiva publicada ontem.
Na avaliação do economista Paulo Gala, as medidas não respeitaram qualquer princípio de reciprocidade. “Não foi tarifa recíproca. É a ideia de que, se um país tarifa os EUA em 30%, os EUA vão lá e tarifam 30% de volta. Isso é tarifa recíproca. Mas não foi isso que foi feito”, afirmou.
Para Paulo Gala, o governo Trump apenas pegou os grandes déficits comerciais que os EUA têm e colocou uma tarifa em cima.
“Foi uma resposta meio tosca. Na verdade, é uma tarifação de países e produtos que causam déficit nos Estados Unidos”, completou.
Brasil
O Brasil ficou com a tarifa mais baixa entre as divulgadas, com uma taxação de 10% sobre todas exportações para os Estados Unidos. O governo promete tentar reverter a situação e recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) que, devido à paralisia promovida pelos EUA, teve sua atuação limitada nos últimos anos.
O efeito geral que a guerra de tarifas vai causar, com provável retaliação por todo o mundo, deve trazer problemas adicionais para o comércio internacional no Brasil, não diretamente relacionado com a taxação sobre as importações brasileiras.
“O Brasil ficou com a tarifa ‘mais barata’ de 10%. Claro que isso é um benefício, mas o Brasil vai sofrer por conta desse terremoto global que está acontecendo. Um medo de crise derrubando juros e dólar e uma recessão, obviamente, que afetariam o Brasil também”, afirmou o economista-chefe do Banco Master.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) lembrou que os EUA são o principal destino das exportações da indústria brasileira, especialmente de produtos de maior intensidade tecnológica, além de liderarem o comércio de serviços e os investimentos bilaterais.
Paulo Gala avalia que a fabricante de aviões brasileira Embraer deve ser uma das companhias mais atingidas. “Talvez Embraer seja a empresa mais impactada. A nossa dependência em relação aos EUA não é muito alta. Para além dos efeitos diretos em algumas empresas brasileiras, não deve ter um efeito tão dramático”, completou.
Oportunidades para o Brasil
Especialistas têm destacado ainda que a crise aberta pela guerra de tarifas gera oportunidades que podem ser aproveitadas pelas exportações brasileiras.
“Se souber aproveitar esse momento, o Brasil pode expandir suas exportações, especialmente porque a taxação sobre produtos americanos pode levar importadores a buscar alternativas”, na avaliação de Volnei Eyng, CEO da gestora de ativos Multiplike.