Nos primeiros dias do novo mandato de Donald Trump, um novo capítulo da batalha política entre a direita e a esquerda na América Latina ganhou destaque. A oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) usou uma série de acusações sobre a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) para atacar a atual administração brasileira, sugerindo que a agência teria influenciado de maneira irregular as últimas eleições presidenciais. A polêmica envolve uma série de declarações feitas por figuras próximas ao ex-presidente Trump, como o bilionário Elon Musk e o ex-funcionário do Departamento de Estado dos EUA, Mike Benz.
Criada durante a Guerra Fria com o objetivo de aumentar a presença internacional dos Estados Unidos e conter o avanço da União Soviética, a USAID é uma das maiores agências de ajuda humanitária do mundo. Com foco em países em desenvolvimento, a agência visa promover o crescimento econômico e combater a pobreza. Nos últimos anos, no entanto, a USAID se tornou alvo de críticas, especialmente da oposição no Brasil, que questiona sua atuação no país.
PUBLICIDADE
Em meio a esse contexto, a USAID foi duramente atacada por Elon Musk, que é chefe do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) de Trump. Musk acusou a agência de ser um “ninho de víboras marxistas de esquerda radical”, em uma tentativa de enfraquecer a credibilidade do órgão e sugerir uma agenda política de esquerda infiltrada em suas operações. A retórica de Musk foi logo ecoada por figuras da direita brasileira, como o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O ponto de virada nas críticas à USAID ocorreu no início de janeiro, quando Mike Benz, ex-chefe da divisão de informática do Departamento de Estado dos EUA, fez sérias alegações sobre a interferência da agência nas eleições brasileiras. Em uma entrevista a Steve Bannon, ex-conselheiro de Trump, Benz afirmou que, caso a USAID não existisse, Jair Bolsonaro ainda seria o presidente do Brasil. Segundo ele, a agência teria atuado por meio de financiamento para controlar e censurar informações, o que teria prejudicado a candidatura de Bolsonaro nas eleições de 2022.
Embora Benz não tenha apresentado provas concretas de sua alegação, suas declarações ganharam força rapidamente dentro de grupos de oposição ao governo Lula. O caso acabou se tornando uma arma política, com acusações de que a USAID teria agido para manipular os resultados eleitorais, fortalecendo a narrativa já conhecida de que as eleições de 2022 foram fraudulentas – uma ideia disseminada especialmente entre bolsonaristas, mas que carece de evidências substanciais.
PUBLICIDADE
A retórica de Benz, Musk e Trump foi amplificada nas redes sociais e nos discursos de membros da oposição no Brasil. O deputado Eduardo Bolsonaro, por exemplo, focou fortemente no assunto em suas publicações nas redes sociais entre 3 e 10 de fevereiro. De um total de 112 publicações feitas pelo parlamentar no X (antigo Twitter), 36 mencionaram diretamente a USAID e as alegações de interferência. A ideia de que as eleições foram manipuladas por forças externas ganhou força entre os apoiadores do ex-presidente Bolsonaro, alimentando teorias de conspiração sobre o processo eleitoral.
É importante notar que, até o momento, as acusações sobre a USAID não foram acompanhadas de provas concretas de que a agência tenha de fato interferido nas eleições. Ainda assim, as alegações continuam a ser um ponto sensível no debate político brasileiro.
PUBLICIDADE
Embora a USAID seja frequentemente vista com desconfiança por parte da oposição, a relação entre o Brasil e a agência não se resume a críticas e controvérsias. Desde 2019, quando o governo de Bolsonaro assinou uma carta de intenção com Washington para criar um fundo de US$ 100 milhões para a Amazônia, a USAID tem atuado no Brasil, especialmente em projetos de desenvolvimento sustentável. Além disso, durante a pandemia de Covid-19, o Brasil recebeu significativa ajuda humanitária da agência, incluindo a doação de ventiladores pulmonares para enfrentar a escassez de equipamentos médicos durante o colapso do sistema de saúde.
A acusação de interferência eleitoral da USAID no Brasil, embora sem provas substanciais até o momento, continua a ser uma ferramenta política eficaz para a oposição. As declarações de Mike Benz e Elon Musk, aliadas ao apoio de figuras como Eduardo Bolsonaro, ajudam a alimentar uma narrativa de fraude eleitoral, especialmente entre os apoiadores de Bolsonaro.
PUBLICIDADE
A relação entre o Brasil e a USAID, marcada tanto por controvérsias quanto por colaborações em áreas como a saúde e o meio ambiente, demonstra a complexidade das relações internacionais e o impacto das agendas políticas no cenário doméstico.
Redação AM POST