Em meio às investigações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco, o delegado Giniton Lages, apontado como suspeito de ter acobertado os mandantes do crime, se recusou inicialmente a fornecer a senha de seu celular apreendido. Durante um depoimento à Polícia Federal (PF), ele alegou que não queria “produzir provas contra si mesmo”. Depois, sob orientação de sua defesa, Giniton concordou em fornecer o código, mas o número informado não foi suficiente para desbloquear o aparelho, o que acabou frustrando a tentativa dos investigadores de obter acesso ao conteúdo do celular. Esse episódio ocorreu durante uma operação em que também foram presos o deputado Chiquinho Brazão, o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), Domingos Brazão, e o ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro.
A decisão de Giniton de não colaborar voluntariamente e, em seguida, fornecer uma senha incorreta reforça as suspeitas sobre seu envolvimento no possível encobrimento dos mandantes do crime. Essas atitudes levaram o delegado Guilhermo de Paula Machado Catramby a encaminhar um ofício ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), relatando a falha no acesso ao aparelho. No documento, o delegado informou que, embora Giniton tenha fornecido uma possível senha, o código não permitiu o desbloqueio do dispositivo. O bloqueio do celular representa um obstáculo importante, uma vez que as autoridades buscam entender melhor as interações de Giniton Lages e sua ligação com outros investigados.
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O episódio envolvendo Giniton Lages não é o único que levanta questionamentos. O inquérito do STF também abrange outros suspeitos, incluindo Robson Calixto Fonseca, conhecido como “Peixe”, ex-policial militar e ex-assessor de Domingos Brazão no TCE-RJ. Segundo o inquérito, Peixe é suspeito de ter fornecido a arma usada no assassinato de Marielle a Ronnie Lessa, outro ex-PM, apontado como executor do crime e atualmente preso. Peixe, assim como Giniton Lages, também teve seu celular apreendido, mas não forneceu a senha necessária para liberar o acesso ao conteúdo do aparelho.
A falta de colaboração dos suspeitos, seja por meio da recusa ou do fornecimento de senhas incorretas, gerou um impasse nas investigações. Os investigadores acreditam que os celulares de Giniton Lages e Peixe possam conter informações que elucidem as interações entre os suspeitos e as ligações com figuras influentes no cenário político e administrativo do Rio de Janeiro, especialmente com Domingos Brazão. A dificuldade em acessar os aparelhos dos envolvidos atrasa a obtenção de provas digitais, consideradas essenciais para confirmar a cadeia de comando e os vínculos entre os autores intelectuais do assassinato de Marielle Franco.