- Foto: Gabriel Vieira / AM POST
Notícias policiais – “No domingo (22/06), ela entrou em contato com a mãe dizendo: ‘Mãe, o que me prometeram aqui não é nada disso’. Prometeram que eu ia trabalhar como auxiliar de cozinha, mas não foi isso que aconteceu’.” O relato emocionado é do pai de uma jovem amazonense de 18 anos, vítima de aliciamento por parte da própria tia, que é irmã da mãe da mãe dela. Com a promessa de um emprego em São Paulo, a jovem deixou Manaus e foi entregue a uma rede de prostituição. Hoje, está abrigada sob a proteção da Polícia Federal no Aeroporto Internacional de Guarulhos, após conseguir fugir do cativeiro.
Segundo o pai, que preferiu não se identificar, tudo começou com a falsa promessa de uma oportunidade profissional na capital paulista. A tia da jovem, que também não teve o nome divulgado, se ofereceu para custear a passagem e convenceu a menina de que ela teria uma vida melhor trabalhando como ajudante de cozinha. “Ela viajou sem nossa autorização. A tia dela comeu a mente dela dizendo que seria melhor, que lá o trabalho era bom, que ia ganhar bastante dinheiro”, contou.
PUBLICIDADE
No entanto, assim que chegou ao destino, a jovem foi levada diretamente a uma residência controlada por uma mulher identificada como Paola. Lá, descobriu que havia sido enganada. “Disseram que como domingo era folga na segunda-feira, ela começaria depois, mas já avisaram que ela teria que se prostituir. Não havia restaurante, nem vaga de emprego”, detalhou o pai.
Leia mais: Amazonense é enganada pela própria tia e levada para rede de prostituição em São Paulo
A situação ficou ainda mais desesperadora quando a jovem foi ameaçada e agredida por uma segunda mulher, Salete Loureiro, apontada como cúmplice no esquema. Segundo o relato, Paola e Salete cobravam da vítima uma dívida fictícia, referente a custos com alimentação, hospedagem e passagem aérea — uma prática comum em redes de tráfico de pessoas com fins de exploração sexual.
PUBLICIDADE
“Essa Paola falou para ela que para comer, tomar banho, dormir, ela teria que se prostituir. Tinha que pagar uma diária. Foi um terror. Ela mantinha contato com a gente apenas quando conseguia ficar no banheiro, escondida”, revelou o pai.
Na segunda-feira (23), a jovem chegou a se prostituir mas encontrou uma brecha para escapar. Ela foi até o Aeroporto Internacional de Guarulhos, onde procurou ajuda da Polícia Federal. Desde então, está sob proteção no posto da PF no terminal e aguarda apoio para retornar a Manaus.
PUBLICIDADE
A denúncia foi registrada pela mãe da jovem no 1º Distrito Integrado de Polícia (DIP), no bairro Praça 14 de Janeiro, zona Sul da capital amazonense. O caso está sendo investigado como aliciamento e tráfico humano, e deve ser encaminhado à Polícia Civil de São Paulo, já que os fatos ocorreram naquele estado.
Ajuda para voltar para casa
Sem recursos para arcar com os custos do retorno da filha, a família iniciou uma campanha solidária para arrecadar o valor necessário da passagem. Doações podem ser feitas via PIX para o número (92) 99305-3401, em nome de Suelen Loureiro, mãe da vítima. “A prioridade agora é tirá-la de lá e trazê-la para casa. Ela está traumatizada, com medo, e só quer voltar para perto da família”, disse o pai.
PUBLICIDADE
Tráfico humano e o uso de familiares no aliciamento
Casos como esse, em que familiares participam do recrutamento das vítimas, são considerados especialmente graves. De acordo com especialistas, o uso de laços afetivos é uma tática comum entre redes criminosas que atuam no tráfico de pessoas. A promessa de trabalho com bons salários fora da cidade natal é uma das principais iscas utilizadas por aliciadores.
O tráfico de pessoas é crime previsto no Código Penal Brasileiro e pode envolver penas de até 8 anos de reclusão, podendo ser agravadas em casos que envolvem exploração sexual e vítimas menores de idade ou em situação de vulnerabilidade.
A Polícia Federal orienta que suspeitas de aliciamento e tráfico humano podem ser denunciadas de forma anônima por meio do Disque 100 (Direitos Humanos) ou pelo aplicativo Direitos Humanos Brasil.
Enquanto a jovem amazonense aguarda o retorno para casa, sua história serve de alerta a outras famílias sobre os riscos ocultos por trás de ofertas tentadoras — especialmente quando vêm de dentro do próprio círculo familiar.