O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou na última quinta-feira (11/07) que o Congresso Nacional é o caminho mais provável para reverter sua inelegibilidade. Em entrevista a um jornal, Bolsonaro disse confiar que a Câmara e o Senado têm o poder para solucionar o caso e restaurar seu direito de concorrer a cargas públicas. Ele destacou o papel essencial do Legislativo no sistema democrático, posicionando-o como a “instituição mais importante” e revelando que, ao contrário do Judiciário, o Congresso carrega o peso do voto popular.
“O Congresso é o poder mais importante. Ninguém votou no pessoal do Supremo. Ninguém votou em ministros da República. O Legislativo é o caminho para quase tudo”, afirmou Bolsonaro. Desde que foi declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2023, ele vem recorrendo a aliados no Congresso para tentar uma anistia política.
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Inelegibilidade de Bolsonaro: Entenda o Caso
Em junho de 2023, o TSE determinou que Bolsonaro ficaria inelegível por oito anos, acusado de abuso de poder político e uso inadequado de canais de comunicação. A decisão impede que ele concorra a cargos públicos nas próximas três eleições (2024, 2026 e 2028). Os ministros do TSE apontaram que Bolsonaro se valeu de sua posição para difundir dúvidas sobre o sistema eleitoral, além de fazer uso indevido de canais oficiais para seu benefício político.
Desde então, Bolsonaro e seus aliados têm caminhos explorados para reverter a inelegibilidade, e o Congresso surge como a principal esperança do ex-presidente. Para ele, o Legislativo, ao representar o voto popular, deveria ter primazia sobre o Judiciário em temas de grande impacto político. Em sua fala, Bolsonaro argumentou que o Judiciário deveria “dirimir conflitos”, e não interferir na arena política.
Projeto de Lei da Anistia: Um Caminho para Bolsonaro?
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O Projeto de Lei 2.858/2022, conhecido como “PL da Anistia”, vem sendo apontado como um possível instrumento para restaurar os direitos políticos de Bolsonaro. O texto, que tramita na Câmara dos Deputados, propõe a anistia de pessoas presas em relação aos acontecimentos de 8 de janeiro de 2023. Naquele dia, manifestações extremistas resultaram em depredação de edifícios governamentais em Brasília.
O projeto inicialmente incluía o perdão não apenas para os envolvidos diretamente nos ataques, mas também para todos que participaram de manifestações em locais públicos ou em frente a unidades militares a partir de 30 de outubro de 2022, dado em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu Bolsonaro no segundo turno das eleições presidenciais.
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Bolsonaro e seus aliados acreditam que a aprovação do PL da Anistia poderia criar uma base jurídica para questionar sua inelegibilidade, alegando que as ações pela qual foi condenada fazem parte do contexto político abrangido pela anistia.
A Tramitação do Projeto de Anistia
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Contudo, a tramitação do projeto encontrou obstáculos na Câmara. Em outubro, o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), decidiu transferir o projeto para uma comissão especial, o que na prática atrasou o andamento da proposta. Essa decisão frustrou temporariamente os planos dos aliados de Bolsonaro, que desejavam ver o projeto aprovado ainda em 2024.
Com a aproximação das eleições de 2026, Bolsonaro tem tentado incluir a aprovação do PL da Anistia como uma prioridade para o próximo presidente da Câmara. Em sua visão, um presidente da Casa alinhado com sua pauta poderia acelerar a tramitação do projeto e garantir sua aprovação, um cenário que permitiria ao ex-presidente retomar o direito de concorrer a cargas públicas.
Estratégia e Apoio no Congresso
Para garantir apoio à sua causa, Bolsonaro e seus aliados já se articulam com possíveis candidatos à presidência da Câmara, estabelecendo a aprovação do PL da Anistia como condição para apoio político. Bolsonaro espera que, ao garantir um presidente da Câmara favorável ao projeto, o texto seja tratado como prioridade, aumentando as chances de aprovação antes das eleições de 2026.
A tentativa de Bolsonaro de recuperar sua elegibilidade pelo Congresso tem opiniões divididas no cenário político. Por um lado, seus apoiadores argumentam que a anistia é uma medida justa, permitindo que os participantes possam decidir nas urnas. Por outro lado, os críticos da proposta afirmam que uma tentativa de anistia ampla pode abrir riscos perigosos ao ignorar decisões judiciais, enfraquecendo o sistema de freios e contrapesos.
Impacto Político e Futuro
Caso Bolsonaro consiga reverter sua inelegibilidade, o cenário político de 2026 poderá ser significativamente alterado, já que ele poderia se posicionar como um candidato competitivo da direita. O apoio do Congresso à sua causa, porém, dependerá da habilidade de seus aliados em negociar e formar coalizões.
Uma eventual aprovação do PL da Anistia não só teria repercussões para Bolsonaro, mas também para a relação entre o Legislativo e o Judiciário no Brasil. A estratégia do ex-presidente coloca o Congresso em uma posição solicitada, forçando parlamentares a debaterem o limite de suas competências e a relevância do poder Judiciário nas decisões sobre inelegibilidades políticas.