
Foto: reprodução
Tecnologia – Em 4 de março de 2025, a Colossal Biosciences, empresa americana de biotecnologia, anunciou com alarde a criação de camundongos geneticamente modificados com pelos dourados e metabolismos supostamente adaptados ao frio, evocando os extintos mamutes-lanosos. A iniciativa, vendida como um passo para “reviver” uma espécie desaparecida há 4 mil anos, levanta mais dúvidas do que soluções, expondo os limites éticos e práticos de um projeto que parece mais ficção científica do que ciência responsável.
Um experimento questionável
A equipe da Colossal alterou sete genes de camundongos, ajustando textura de pelos e metabolismo lipídico para imitar traços dos mamutes. Beth Shapiro, cientista da empresa, admite que essas variações já existem em roedores e foram apenas combinadas artificialmente. O resultado? Um “camundongo-lanoso” que, apesar do marketing, não passou por revisão científica séria nem foi publicado em periódicos acadêmicos. Chamar isso de avanço é, no mínimo, precipitado – e, no máximo, enganoso.
PUBLICIDADE
O plano é usar esse experimento como base para modificar elefantes asiáticos, espécie ameaçada e parente distante dos mamutes. Mas será que vale a pena submeter animais vivos a alterações genéticas arriscadas por um objetivo tão duvidoso? A ciência deveria preservar o que ainda existe, não brincar de recriar o passado.
De-extinção ou Frankenstein genético?
Christopher Preston, especialista em Vida Selvagem da Universidade de Montana, é direto: “Modificar um elefante asiático para ter pelos diferentes ou tolerância ao frio não é ressuscitar um mamute. É criar algo novo, um híbrido que nunca foi testado na natureza”. A crítica é certeira. O que a Colossal chama de “de-extinção” é, na verdade, uma manipulação genética que ignora a complexidade ecológica e comportamental de espécies extintas. Um mamute sem seu habitat original ou seus instintos naturais é apenas uma caricatura.
Ambições exageradas e promessas vazias
Não contente com os mamutes, a Colossal quer “reviver” o lobo-da-tasmânia e o dodô. Desde 2021, a empresa faz barulho – e em março de 2025 anunciou células-tronco de elefantes como suposto marco. Ben Lamm, chefe da companhia, declarou à Sky News ter “100% de confiança” no sucesso. Mas confiança não substitui evidências. Recriar genes é uma coisa; garantir que esses animais sobrevivam e se integrem a ecossistemas modernos é outra bem diferente. Sem falar no risco de desviar recursos da conservação de espécies que ainda lutam para não desaparecer.
PUBLICIDADE
Um futuro incerto e perigoso
A ideia de reintroduzir essas criaturas em habitats originais soa romântica, mas é impraticável. O mundo de hoje não é o do Pleistoceno. Mamutes recriados não teriam como aprender a viver como seus ancestrais, e sua presença poderia desequilibrar ecossistemas frágeis. Além disso, o foco em elefantes asiáticos, já ameaçados, como cobaias genéticas é preocupante. Por que arriscar uma espécie viva por um experimento especulativo?
A Colossal Biosciences vende um sonho que mistura inovação com nostalgia, mas o custo é alto. Dinheiro e energia gastos em “de-extinção” poderiam salvar espécies atuais, como os próprios elefantes asiáticos listados pela IUCN como ameaçados. Em vez de enfrentar os reais desafios ambientais, a empresa prefere um show de biotecnologia que, até agora, entregou apenas camundongos dourados e promessas frágeis. Relembre: nem tudo que brilha é progresso.